domingo, 24 de novembro de 2019

madrugadas insones


o dia anoitece,
a gente adormece,
acorda embaçado,
suado, ressecado,
céu nublado,
ar condicionado,
quarto fechado,
ar viciado,
cheirando a cigarro,
fumaça de incenso,
das tais madrugadas,
caladas, insones,
que a gente consome,
come,
e mesmo sem fome,
repete,
enfim,
toda noite amanhece...


[rascunhos & rabiscos]

Marcas

esta parte de mim guarda as marcas
do que aconteceu
das mentiras da dores das farpas
e do que já morreu

quantos sonhos não foram verdade
tantos eu perdi
pra dureza da realidade
que eu não escolhi

mas se eu não tentasse
viriam de novo
me arranhar a cara
me chamar de tolo

e se não sangrasse
toda vez um pouco
seria impossível
começar de novo

(música e letra de Cláudio e Vaccari)

Barbaca

entre doença e cura, 
arrepio e frio, 
mergulho e medo, 
paixões e rompantes, 
sorrisos e sustos, 
alegrias, tristezas, 
amor e dor, 
a gente sempre sobrevive no final. 

Importante mesmo é saber que fomos inteiros e intensos, sinceros e claros, verdadeiros e honestos, responsáveis e cúmplices, amorosos e afetuosos, compreensivos, pacientes e o mais importante, que é saber aceitar e respeitar as escolhas dos outros. Isso nos dá uma coisa que não tem tamanho e nem preço, que é ter a consciência tranquila e a certeza de termos feito tudo que possível foi. 

Seguimos em frente, nesta nova fase "barbaca", mas não babaca. Os últimos meses não foram nada fáceis, e confesso que to cansado de sobressaltos, mas minha esperança e fé na vida são minha maior força, e prefiro mil vezes ser impetuoso e demasiadamente falante, prefiro me expor e me deixar conhecer a me esconder, e principalmente agir com consciência e maturidade, dizer sempre a verdade e não magoar ninguém. Era isso! 

To gostando de tudo que tá acontecendo, estou crescendo léguas por segundo. Era isso. Beijos

[Pela cidade]



chamam-no louco
porque usa roupas rasgadas,
tem barba mal feita,
e um largo e insistente sorriso...
ele ri de tudo, ri até sem motivo,
e brinca como criança,
olhando os carros que passam,
ele faz palhaçadas,
para tantas janelas fechadas,
que passam velozes, filmadas,
e não dá pra ver nem as caras,
dos donos dos carros sem alma,
que passam acelerados,
respirando ar "condicionado",
de óculos escuros,
os rádios ligados,
seus motores rugindo,
corações? calados...
mas ele não liga,
ele não se importa,
e não pede nada...
e nada lhe aborrece,
nem mesmo a fome,
dos dias de pouca comida,
e pensas que nada ele tem,
é apenas um nobre palhaço,
de um circo sem plateia,
mas ele é o dono do mundo,
de todos os vira latas,
e de todos os gatinhos,
que com ele dormem
embaixo de um viaduto qualquer...
trocar de lugar com você?
duvido! ele não quer!
seria ele um louco?
ou louco é quem diz,
que ele não é feliz?

[rascunhos & rabiscos]

sexta-feira, 22 de novembro de 2019


O amor, dito ou falado,
seja em verso, prosa ou fado,
e ainda que bem "letrado",
é um quadro emparedado,
do seu ego, emoldurado,
em metal amarelado,
protegido por um vidro,
que reflete desfocado,
o falar e não fazer...
este amor teorizado,
pendurado na parede,
da tua sala vazia,
não mata nem fome nem sede,
dos que precisam de fato,
não apenas admira-lo,
mas dele comer e beber,
o amor não se orgulha de amar,
não há orgulho ou virtude,
no amor de verdade,
o nome disso é vaidade.
chamas isso de legado?
Desculpa aí, companheiro,
mas quando vejo o teu ódio,
contrapondo o teu discurso,
isto que chamas de "amor",
eu não consigo sentir,
muito menos, entender...
[rascunhos & rabiscos - no repente] em 16/10/2014