quarta-feira, 4 de junho de 2025

UMA NOITE DE INVERNO

UMA NOITE DE INVERNO

deixa que eu fico aqui,
escondido, encolhido,
como um passarinho,
que caiu do ninho,
e não tinha grama no chão,
era tudo de concreto,
e só tinha uma opção,
transformar em meu abrigo,
a caixa de papelão,
e dormi, embriagado,
sonhando que fui comprado,
pra morar numa gaiola,
dourada, com comedouro,
e um potinho de água,
toda forrada de jornal...
mas tava de pés descalços,
tremendo de frio, de fome, de sede,
e não tem nem bica por perto,
pra eu molhar o meu bico,
a água custa dinheiro...
mas ela não brota da fonte?
de quem é a fonte?
qual é o meu preço?
quanto custa um gole d´agua?
eu valho o que você paga?
eu sou igual a você, bicho homi,
também tenho sede de vida,
e sonho com comida,
com calor e liberdade,
com carinho, com familia,
com amor e com fraternidade,
e mesmo que eu seja "livre",
eu vivo é aprisionado,
e nem precisa gaiola,
já nasci enclausurado,
neste mundo que imprime,
a cor da minha pele na parede verde,
do lado da porta marrom,
aquela que tu fechou,
porque já tava de noite,
e era hora de dormir,
e tu nem reparou que eu tava ali...
eu sou só mais um nojento,
que vou dormir ao relento,
aquecido com cachaça,
e tu no teu cobertor,
de uma lã felpuda e grossa,
mas... quem sabe um dia eu possa,
dormir quentinho também?
Bom dia! acordou?
eu ainda tô aqui...
ei moço...
tem um tênis pra mim?
eu tô morrendo de sede...
[e ele me olhou e sorriu... PUTA QUE PARIU!]

[rascunhos & rabiscos] - de 2015

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